lunedì 20 ottobre 2014

O NARRADOR RELUTANTE - MUSEU BERARDO, LISBOA




O NARRADOR RELUTANTE
Práticas Narrativas na Arte Contemporânea
curadora Ana Teixeira Pinto
Museu Coleção Berardo
Praça do Império - Lisboa
15/10/2014 - 11/1/2015

Artistas: Julieta Aranda, Armando Andrade Tudela, Leonor Antunes, Kader Attia, Nina Beier, Derek Boshier, Aleksandra Domanović, Dani Gal, Karl Holmqvist, Christoph Keller, David Levine, Amalia Pica, Bojan Šarčević, John Smith, Hito Steyerl, Stephen Sutcliffe, Andreas Töpfer, Gernot Wieland

Não existe uma história real. Parafraseando o historiador americano Hayden White, as histórias não são vividas, são narradas; uma história real é um oxímoro. Do mesmo modo, a história é um problema e não um puzzle cujas peças só precisam de se encaixar da forma certa. Ficou célebre a afirmação de Roland Barthes: «A História é histérica: só se constitui se a olharmos», o que não significa que os acontecimentos históricos nunca tenham acontecido ou que sejam desprovidos de realidade, mas antes que a própria noção de história é uma prática discursiva distinta, uma modalidade específica de representação, baseada na narrativa.
Embora a narrativa não faça parte dos cânones críticos do modernismo, o fim do século XX assistiu a uma explosão de interesse pelas chamadas «práticas narrativas» que se estendeu por campos tão diversos, como a arte, a literatura ou as ciências cognitivas. Tendo como origem o campo de pesquisa delineado por Tzvetan Todorov – dita «narratologia» – esta abordagem tem como base a noção de que a vida é, ela própria, constituída narrativamente, ou – como sugere o filósofo francês Jacques Rancière – que a realidade, para poder ser pensada, necessita de ser ficcionalizada. Nas artes plásticas, todos os elementos narrativos que tinham sido reprimidos na primeira metade do século XX, ressurgiram nas suas últimas décadas, conjuntamente com uma reavaliação da noção de realismo e de representação, e o pós-modernismo chegou a ser descrito como uma «viragem narrativa» (narrative turn), no qual um renovado interesse pelo fictício, anedótico ou biográfico faz erodir a unidade simbólica do modernismo.
Mas, como Susan Buck-Morrs fez notar em The Dialectics of Seeing, os termos «modernismo» e «pós-modernismo» não designam apenas momentos cronológicos, eles também descrevem duas posições políticas: os pólos opostos num movimento recorrente representando as contradições inerentes ao modo de produção industrial, através, ora da identificação, ora da diferença entre forma artística e função social. Em vez de opor uma multitude de micro-histórias à grande narrativa do modernismo, O Narrador Relutante, propõe questionar a lógica que separa factos e ficção. O título da exposição faz alusão ao conceito de «narrador não credível» usado na literatura ou no cinema para descrever um tipo de narrador instável ou comprometido, mas justapõe essa figura à chamada «aporia da narração»: as histórias que mais necessitam de ser contadas são precisamente aquelas que, pela complexidade da sua natureza, são impossíveis de narrar.
Agrupando um conjunto de obras que intersetam o pessoal e o histórico, o biográfico e o social, a presente exposição tenta esboçar os percursos de práticas narrativas através de vários media, como forma de demonstrar que a narrativa não significa simplesmente continuidade na mudança, ou mudança na continuidade, mas também uma negociação constante de verdades parciais, capazes de sustentar uma unidade agonística e de exprimir a irredutibilidade do social.

Ana Teixeira Pinto

Imagem: John Smith, Blight (still), 1996.